Dez coisas para fazer enquanto se espera um ônibus

Esperar ônibus é um saco, principalmente por que, no Brasil, as pessoas desconhecem o que é horário. Cadê o ônibus das 18h10? Ah, hoje ele passou aqui às 18h06. Perdi. Pode parecer bobagem, mas esses poucos minutos fazem diferença. Eu me preparo para estar na parada às 18h10. Sou pontual, mas o motorista pensa diferente. Vai ver, ele quer chegar mais cedo em casa...

E o que fazer, enquanto espero pelo próximo ônibus? Esperar é um saco, como eu disse antes. Mas desenvolvi algumas técnicas que me ajudam a não morrer de tédio, nem de raiva.

1-Ouvir música: É bom, porque assim nenhum impertinente se atreve a puxar assunto. Odeio conversar com estranhos. Não estou interessada na quantidade de roupas que não secaram porque está chovendo. Não quero comentar o tempo. Não vejo nenhuma novela. Deixem-me a sós com meus pensamentos!

2-Ler um livro: Seria excelente, não fosse por um problema: não consigo me concentrar. Não que eu precise de silêncio absoluto para ler, mas é que eu fico toda hora levantando os olhos do livro, para ver quais ônibus estão passando. Mesmo sabendo que o meu ainda vai demorar...

3-Ouvir as conversas dos outros: Adoro! O problema é que às vezes não aparece nada de interessante. Ouvir papo sobre as roupas que não secaram é ainda pior do que participar da conversa. Não é todo dia que aparece alguém comentando a separação da Jucineide ou sobre o filho da Marilúcia, que está tendo problemas com a polícia.

4-Escolher uma pessoa e tentar adivinhar que ônibus ela vai pegar: Vila Nova? Boa Saúde? Cohaburgo? Rincão? Onde será que essa criatura mora? Quase nunca acerto. O interessante é quando a pessoa acaba entrando no mesmo ônibus que eu, e eu nunca a vi mais gorda.

5-Julgar as pessoas: Essa técnica é legal, porque a cada dia posso escolher uma categoria. Música, por exemplo. Esse aí é pagodeiro, aquela lá só escuta o que está na moda, aquele outro deve gostar de música de bailão... Já imaginei quantos parceiros sexuais uma pessoa já teve, ou quanto ela ganha, ou onde trabalha, ou em quem votou, ou que nome ela deve ter. É divertido.

6-Botar reparo nas roupas: Nem entendo nada de moda e não sou muito chegada no assunto. Mas gosto de observar o que as pessoas estão vestindo. Principalmente as mulheres, porque homem se veste sempre igual. Aí tem a tiazinha que roubou o vestido da filha, a mocinha que tem a coragem de mostrar pernas dominadas pela celulite, aquela que pensa que está na praia, gente de botas num calor infernal, gente com combinações de cores nada a ver... E aquelas mulheres que ficam lindas só com um vestidinho e uma sandalinha. Para estas, dou o troféu Audrey Hepburn.

7- Olhar para os pés dos outros: Adoro sapatos! Muito mais do que roupas. Mas olho para os pés das pessoas só para implicar. Quero saber quem faz o pé e quem é desleixada. Felizmente, a maioria das mulheres é ajeitada. São poucas as que andam por aí com unhas cortadas de qualquer jeito, com cutículas gritando e com calcanhares cascudos ou rachados. Para estas, tenho vontade de dar um vale-pedicure. Ou uma multa. Existem salões de todos os preços, em qualquer biboca. Existem primas, tias, irmãs que sabem fazer pedicure. Não tem desculpa para o desleixo. Reparando em pés, vejo que poucas ousam na cor do esmalte. A maioria oscila entre os clarinhos e os vermelhos (que as tiazinhas adoram!).

8-Observar mães e filhos: Fico impressionada com a quantidade de mulheres que deixam as crianças pequenas soltas na parada. Ou com aquelas que vêem os filhos jogando lixo no chão e não os xingam. Ou com aquelas que entopem as crias de refrigerante, salgadinhos e balas. Ou com aquelas que levam tapas e não fazem nada. É altamente estressante!

9-Ficar lembrando de coisas e rindo sozinha: Pode ser qualquer coisa: o último janelão do MSN, as frases mais legais de Seinfeld, alguma coisa acontecida na oitava série. Se for engraçado, vale a pena recordar. E rir sozinha não é coisa de louco, é coisa de quem tem uma imaginação que funciona bem.

10- Ter idéias para textos: Pensando em tanta bobagem, às vezes surge alguma idéia que pode ser aproveitada. O problema é lembrar de tudo depois...

Quem espera, sempre alcança!


Eu sempre fui fã do Guns N’ Roses. Quando eu era adolescente, tinha mil e quinhentos pôsteres – que estão todos guardados, bem escondidos, numa pasta. Como quase todas as meninas da minha geração, eu também tinha uma paixão platônica pelo Axl Rose. Eu jurava que um dia ia conhecê-lo e ele ia se apaixonar por mim. Se isso acontecesse, seria pedofilia, mas era o que eu sonhava.

Além dos pôsteres, das camisetas e da paixonite boba, eu também gostava da música. Dessa, eu ainda gosto, apesar de já não ouvir tanto a banda como antes. E a culpa é toda do Axl, que demorou milhares de anos para lançar material inédito.

Quando o Guns se separou, indo cada um para um lado e o Axl ficando dono e senhor do nome da banda, fiquei do lado dele (como se isso fizesse alguma diferença no Universo). Acompanhei todos os rumores de nova formação, novo disco, Slash voltando, Axl perdendo a voz e a sanidade. Lembro do tempo em que se dizia que o novo trabalho da banda se chamaria 2000 Intentions.

Finalmente, passaram a divulgar que o cd se chamaria Chinese Democracy. Eu precisaria fazer uma extensa pesquisa para saber quantas vezes ele deveria ter sido lançado, nos últimos anos. A cada novo adiamento, mais uma frustração. Mas continuei esperando, firme e forte.

Em 2008, eu estava bem por fora desse vai-não-vai. Nem estava mais pensando no assunto, quando as músicas começaram a vazar na Internet. Fui avisada, mas nem corri atrás. Vai saber o que é boato e o que é verdade! Tempos depois, o Alexandre escreveu sobre o lançamento do cd. Acreditei mais ou menos.

A ficha só caiu, mesmo, quando vi Chinese Democracy na pré-venda do Submarino. Afinal, eles não venderiam um produto inexistente, não é? In Submarino I trust! Logo depois, ouvi as músicas no myspace do Guns e tive a sensação de matar as saudades e de que a espera valeu a pena.

Não vou fazer uma crítica musical, dizendo que as guitarras são assim, que o vocal lembra isso, que as músicas parecem aquilo. Isso não importa. O que faz sentido, para mim, é que finalmente lançaram esse bendito álbum. Eu acreditei e estava certa (como se isso fizesse alguma diferença no Universo).

O mais engraçado de tudo é que eu penei para conseguir comprar Chinese Democracy. Axl devia ter me mandado uma cópia autografada, como prêmio pela minha fé. Comprei no Submarino, mas a companhia de cartão de crédito cancelou a compra. Fui às Americanas, com o mesmo cartão e consegui, sem problemas. Devo ter esperado uns 20 minutos na fila. Chegando em casa, travei uma verdadeira batalha para retirar o plástico do cd.

E por que eu não baixei as músicas na Internet? Ora, que graça teria? Eu esperei anos e anos por um cd - algo que eu posso tocar, ver, guardar - e não por um apanhado de arquivos em mp3.
Acreditar em Chinese Democracy dá trabalho. Requer paciência. Muita paciência...